quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

REDNEX NO BRASIL E A HISTÓRIA REAL DOS CAIPIRAS DA EURODANCE

O Rednex é uma marca, antes de tudo, e essa marca está se preparando para visitar o Brasil em abril de 2024 para uma série de apresentações. E você, pretende assistir a algum show?

"COTTON EYE JOE" DO REDNEX É BASEADA NUMA CANÇÃO FOLCLÓRICA E ACABOU MARCANDO A HISTÓRIA DA CULTURA POP-DANCE

O grupo está completando 30 anos de aniversário e vem ao Brasil para realizar uma turnê, mas... será que veremos os mesmos integrantes daquele divertido grupo country-dance dos anos 90?

O Rednex é um dos grupos de Eurodance que mais sofreu com trocas de membros ao longo dos últimos 30 anos. Na verdade, muitos grupos e bandas também costumam apresentar estas variações e trocas de integrantes / personagens, e no caso do grupo que virá ao Brasil em abril de 2024, não há praticamente mais nenhum integrante da formação original dos anos 90.

Para se ter uma idéia, algo muito semelhante tem acontecido recentemente com o grupo Mamonas Assassinas, que continua na ativa realizando seus shows mesmo com seus integrantes todos falecidos. O mesmo se aplica ao grupo de rock nacional RPM, que não traz consigo mais nenhum integrante original, muito menos o seu popular vocalista Paulo Ricardo. 

Sendo mais claro, há uma questão burocrática que o público não se atenta e que também não se envolve muito, e essa é a questão da marca registrada que todo grupo, projeto ou banda tem. No caso do Rednex, alguém é o detentor de seus direitos autorais, e este alguém não quer se desfazer desta fonte de rendas (mesmo não apresentando nenhum dos artistas originais ao público). 

Acompanhando o Rednex nos últimos anos, podemos configurá-lo como um destes grupos que não quer se "aposentar", e com razão, pois, se há pessoas interessadas em seus shows... por que cessar agora?

REDNEX NO BRASIL - TOUR 2024

Os shows acontecerão entre os meses de Abril e Maio. Os locais dos eventos serão: Curitiba /PR (03/05), São Paulo / SP, Goiânia / GO e Divinópolis / MG (ainda não foram divulgadas as datas para estas três cidades). Provavelmente serão adicionadas outras cidades também.

Valor dos ingressos: Não divulgado.


FALECIMENTO DE "DAGGER" (EX-MEMBRO DO REDNEX)

Coincidentemente um ex-membro da banda chamado Anders Sandberg morreu no finalzinho de janeiro, fato triste que provavelmente não afetará na agenda de shows do grupo em território nacional, pois este músico já não pertencia há alguns anos à marca.

Anders Sandberg faleceu recentemente, no dia 22 de janeiro de 2024

Anders Sandberg atendia pelo nome artístico de "Dagger", tinha 55 anos e nunca foi um dos integrantes da formação dos anos 90, ou seja, a formação clássica que gravou os sucessos do Rednex. "Dagger" foi vocalista do Rednex na formação dos anos 2000, e ele começou sua carreira musical como cantor de uma banda de hard rock antes de ingressar no Rednex - em 2001.

Ele ficou de 2001 até 2005 no Rednex, mas retornou em outros momentos, principalmente entre os anos de 2009 e 2017. 

A marca Rednex lamentou essa perda em sua página oficial no Facebook: 

“Nossa família Rednex nunca mais será a mesma. Você fará muita falta, nossa lenda. Este é um dos dias mais tristes da nossa história. Dagger, nós amamos você”.


A HISTÓRIA VERDADEIRA DO REDNEX 

Despenteados, sujos, engraçados e no topo das paradas!

O Rednex vem da terra das boas melodias - a Suécia - e nasceu em Estocolmo, em 1994, num dos anos mais gloriosos para a música Eurodance (embora seus primeiros passos tenham sido dados no ano de 1992). 

O grupo consistia em diversos integrantes - instrumentistas e vocalistas - e sempre estava numa vibe animada, teatral, divertida e exageradamente pitoresca em sua maneira de se apresentar. Na verdade, eles também se apresentavam como personagens, tinham seus "nomes de guerra", e suas músicas e visuais eram todos voltados ao universo country.

O nome do grupo "Rednex" veio da palavra "rednecks", que significa "caipiras" em nosso português, e eles gravaram em 1994 o seu maior hit: "Cotton Eye Joe".

Este single fez um sucesso gigantesco naquele ano, inclusive foi muito tocado aqui no Brasil, principalmente no 1º semestre de 1995. Lembro-me que, no colégio, a turma da minha classe dançou essa faixa country-dance durante uma apresentação numa gincana, e eu fiquei bem feliz com a escolha da música. Já o videoclipe eu assisti pela primeira vez numa emissora local chamada "TV Thathi" (programa "Clipe Thati") e numa sequência que trazia ainda La Bouche - "Be My Lover" e Ace Of Base - "Beautiful Life". Fiquei maravilhado ao ver este clipe pois eu já era muito fã da música, sem falar que naquela época era bem mais difícil de nos depararmos com algum vídeoclipe do gênero, então, quando isso acontecia você ganhava o seu dia!


Rednex - "Cotton Eye Joe" (1994 / 1995)
Video Oficial (Legendado)

O videoclipe foi dirigido pelo diretor sueco Stefan Berg e venceu o prêmio de "Melhor Vídeo de Dance Sueco" no Swedish Dance Music Awards de 1995. O divertidíssimo material nos mostra um celeiro se transformando numa verdadeira "rave country", com muitos figurantes trajados de caipiras dançando, montando em touros mecânicos, interagindo com ratos... num verdadadeiro "arrasta-pé" eletrônico!
Atenção para algumas placas que são vistas rapidamente no celeiro e que incitam o bom humor, como "Cavalos lá fora", "Sem banho!" e "Não é permitido sexo". Uma verdadeira obra-prima que vai tirar, mesmo que depois de 3 décadas, um sorriso genuíno de seu rosto!

O Rednex foi muito bem nas paradas mundiais com este seu single de estreia, principalmente, é claro, nas que se referem a Europa. E com certeza, eles ainda conseguiram um ótimo destaque nos EUA em março de 1995, quando atingiram o #25 na Billboard Hot 100.


ARA, DE ONDE VEIO "COTTON EYE JOE"?

Os significados e as inspirações...

O refrão da música vem de uma melodia folclórica americana do seculo XIX, muito conhecida como uma canção que circulou pelo sul dos Estados Unidos, então podemos definí-la como um cover que o Rednex fez para ser tocado nos clubs. E como muitas canções folclóricas tradicionais, não há como saber quem foi a primeira pessoa a escrever e a tocar “Cotton Eye Joe”; isso é um mistério. A canção é anterior à Guerra Civil, muito provavelmente foi escrita entre 1800 e 1860, circulando pelos estados sulistas (dos EUA) - principalmente entre os escravos - como uma cantiga para cantar e dançar entre eles. 

A música do Rednex foi lançada oficialmente em 12 agosto de 1994, e contém esse refrão que existe desde o século XIX, porém apresenta também alguns versos femininos que foram compostos originalmente pelo time do Rednex - uma equipe de artistas que respondia na época por Future Crew Team.


Os versos femininos cantados pela vocalista Annika Ljungberg são originais e foram escritos pelos produtores do Rednex, já o refrão é uma regravação de uma música antiguíssima...

“Cotton Eye Joe” (1994) do Rednex é engraçadinha, tem uma velocidade que nos remete ao estilo de Scatman John, é super animada e esbanja diversão, porém... tem algo implícito nela que é bem diferente destas perceptíveis características positivas... 

Existem muitas teorias sobre a criação da letra de "Cotton Eye Joe", e alguns acreditam que o título é uma expressão que tem a ver com "estar alcoolizado", outros pensam que está ligado ao contraste da pele negra com o branco dos olhos (faz sentido porque é uma música antiga e dançada pelos escravos), e há ainda quem diga que é sobre um escravo que sofreu de uma doença nos olhos, substituindo o globo ocular por uma bola de algodão devido à falta de equipamento médico na época. Nenhuma definição verdadeira jamais foi confirmada, mas há ainda uma outra teoria que pode estar também conectada ao hit dos suecos...

Há um conto sobrenatural de um homem que fica cego e jura vingança ao seu amigo. Nesta história sinistra, Joe tem seus olhos perfurados acidentalmente e se vinga do cara que causou isso, assassinando todas as mulheres que estão prestes a se casar com ele. Talvez seja por isso que o refrão de "Cotton Eye Joe" diz claramente que "Se não fosse por Joe - Olhos de Algodão, eu já teria me casado há muito tempo", fazendo uma notável referência ao cara que sonhava em se casar, mas que via o seu sonho ser interrupido todas as vezes que as noivas eram assassinadas.

Outra observação importante a ser feita, é em relação a uma gíria americana denominada como "cotton eye joe" - que é muito usada para definir o homem que tem DST (como a sífilis). Lembro-me que essa nota saiu num fórum russo no início dos anos 2000, e ainda havia um esclarecimento sobre um acessório chamado "olho de algodão", que servia para ser introduzido no pênis e remover a secreção da sífilis (!!). Então, no primeiro instante você pode imaginar que o grupo se aproveitou desta expressão popular para causar uma reação de nojo e repulsa nas pessoas, já que eles também adoravam esse tipo de humor, embora não há nada que comprove esta ou outras teorias. 

"Cotton Eye Joe" é uma uma canção muito antiga que foi regravada por inúmeros artistas conceituados (Nina Simone foi uma das que recriaram a música), motivando que alguns estudiosos se aprofundassem mais neste histórico, então tais pesquisas indicaram que a canção é realmente sobre alguma situação de flagelo vivida na escravidão. Muitos acreditam que havia um personagem negro popular chamado Joe, que era um velho que ficou cego devido ao alcoolismo, ou simplesmente por tracoma ou catarata.

Se você se interessar em ouvir a interessante história sobre Joe - o matador de noivas, que muitos fãs apontam como uma inspiração, clique aqui


ALÉM DE "COTTON EYE JOE"

"BB Stiff" e "Bobby Sue" praticamente nús na Alemanha, provando que a banda Rednex era uma das mais loucas da Eurodance!

Devido a esta popularidade que "Cotton Eye Joe" rendeu ao Rednex, seus produtores resolveram continuar colhendo mais frutos com o grupo sueco, e com isso se dedicaram em criar novas músicas para os "caipiras".

Estes produtores eram Janne Ericsson, Örjan "Oban" Öberg, e Patrick "Pat Reiniz" Edenberg, que pouco tempo depois nos entregaram as novas e aguardadas faixas de trabalho: "Old Pop in an Oak" e "Wish You Were Here".

Quanto a música "Old Pop In An Oak", quando a ouvi pela primeira vez eu nem percebi que se tratava de um single novo, achava que estava ouvindo ainda a mesma "Cotton Eye Joe" - de tão semelhante que o resultado ficou! É sério! A melodia, o rítmo country-eurodance, os vocais, os arranjos, e principalmente o refrão... Quase que um plágio de si mesmo!

"Wish You Were Here" foi uma música produzida por Denniz Pop e Max Martin, tendo um ritmo mais lento e com uma pegada mais sentimental, me lembrando ainda um pouco o estilo de Dolly Parton. Ambas foram tocadas em algumas rádios daqui, mas com menos ênfase, obviamente.


Max Martin e Annika Ljungberg 
Créditos: Facebook de Annika Ljungberg
 
"Visitando os meus arquivos encontrei diversas fotos antigas de shows e apresentações na TV, até que vi essa foto legal minha com Max Martin (Martin Sandberg), tirada quando estávamos na Alemanha para um grande programa de TV ...
Tínhamos acabado de gravar "Wish You Were Here" no Cheiron Studio. Primeira gravação que Martin fez com Denniz Pop ... Lindas memórias" Annika Ljungberg


O primeiro álbum do Rednex foi lançado e intitulado de "Sex & Violins", chegando também nas lojas brasileiras pela BMG. Quanto aos integrantes que o público assistia tocando nos shows, estes não haviam trabalhado como instrumentistas neste álbum de estúdio, já que o produtor levou apenas a vocalista Annika "Mary Joe" Ljungberg para gravar. Ou seja, todos aqueles sons de violinos, banjos, guitarras, entre outros que você ouve nas faixas do álbum "Sex & Violins" foram criados por outros músicos que já trabalhavam e tinham uma notável experiência nos estúdios. Só no segundo álbum, lançado em 2000, que alguns membros visuais participaram com seus atributos artísticos. 

Sobre a arte da capa de "Sex & Violins", era impossível passar perto do disco e não perceber o quanto era uma capa estranha, para não usar o adjetivo "bizarra". Mostra um penico no chão sendo urinado por um sujeito em pé, e em seu preenchimento "fétido" ainda podemos ver os rostos dos cinco membros visuais do Rednex: Bobby Sue, Billy Ray, Ken Tacky, Mary Joe e BB Stiff .


"Sex & Violins"
Rednex (1995)
Jamais me esquecerei quando vi pela primeira vez a capa deste CD ao visitar o departamento de Discos do Carrefour


A vocalista Annika Ljungberg (Mary Joe) talvez seja a figura mais importante e marcante do grupo até hoje. Nos shows, vídeos e capas de discos podíamos vê-la com os demais integrantes, estes que, eram figuras que funcionavam mais como comediantes do que como músicos (não que eles não fossem também). Inclusive, aquela voz masculina tão característica nos refrões de "Cotton Eye Joe" e "Old Pop In An Oak" não era daquele loiro "imundo" que estava presente nos vídeos e palcos. Este membro se chamava Anders Arstrand (Ken Tacky), contudo o vocalista verdadeiro do Rednex era um cantor country chamado Göran Danielsson, que gravava a sua parte vocal secretamente nos estúdios e não mantinha vínculos com a platéia, fãs ou com a imprensa. 

Dentro desta realidade, Göran Danielsson e Annika Ljungberg foram os dois membros mais importantes ao longo destes 30 anos de carreira do Rednex, e isso deve-se ao inegável talento que a dupla proporcionou ao grupo. Percebam também que o Rednex viveu o seu auge quando conquistou a América, e foi justamente quando estes dois artistas cediam os seus belos vocais na formação clássica.


Uma surpresa e tanto para quem achava que Ken Tacky era o verdadeiro cantor nas músicas do Rednex!!


GÖRAN DANIELSSON, A VOZ CAIPIRA DO REDNEX SE CALOU PARA SEMPRE 

Göran Danielsson de Dalarna, nascido na Suécia em 27 de maio de 1957, fez parte de muitas bandas de country e rock’n roll desde 1974. Ele foi o vocalista de grupos como Western Express, Country Minstrels, Tennessee Five e RockBox, mas a sua voz se espalhou pelo mundo quando cantou a parte masculina do hit “Cotton Eye Joe” do Rednex, e após ao grande sucesso, foi gravando outras dezenas de faixas para este projeto que misturava country e eurodance.

Göran se apresentou em muitos programas de televisão em diversas ocasiões e em vários países europeus, tanto como vocalista de diferentes bandas, quanto como artista solo, porém nunca com o Rednex.


REDNEX RAÍZ: Essa é a formação clássica do Rednex (1995)
É uma colagem que fiz, pois achei que seria interessante adicionar também uma foto do vocalista Göran Danielsson junto aos demais integrantes. Aproveitei e inseri outras fotos super raras do violonista de estúdio Bosse Nilsson e do produtor Pat Reiniz (que chegou a ser um integrante visual nos primeiros meses do Rednex)


Foi em maio de 1994 que o produtor Patrick "Pat Ranis" Edenberg (que Göran nunca tinha conhecido, nem ouvido falar antes) ligou para ele e perguntou se gostaria de ir ao seu estúdio para cantar a parte vocal masculina de uma música que ele e seus amigos da Future Crew Team estavam trabalhando. Göran foi lá e gravou a música “Cotton Eye Joe”, que ele conhecia bastante na versão “antiga” do final do século XIX.

Depois disso, ele não teve mais notícias da equipe “Future Crew” até o início de agosto do mesmo ano, quando Ranis ligou novamente e contou sobre um novo contrato de gravações com a Zomba Records, empresa que tinha um plano de lançar um álbum com eles. O produtor executivo do Rednex perguntou a Göran se ele tinha interesse em continuar fazendo a parte vocal masculina, e é claro, ele disse que sim.


"ÊTA LASQUÊRA DE CANTOR BOM!"
Göran Danielsson em agosto /2018

Mas quando surgiram os planos de formar um grupo para as apresentações ao vivo, em conjunto eles decidiram que Göran não deveria fazer parte destes eventos, principalmente por causa de sua carreira que era bem diferente, e como o vocalista não queria abrir mão de seus outros trabalhos na música, então ele continuou sendo apenas a parte do conceito do Rednex, ou seja, apenas “a voz masculina” nos estúdios, enquanto que o integrante visual Anders “Ken Tacky” Arstrand passaria a representar a sua imagem e fazer a sincronização labial de suas partes vocais.


Göran Danielsson: Ele é mais uma voz que encantou os fãs da Eurodance, mas o seu lugar estava no Country e Rock...

E foi assim que Göran Danielsson esteve na maioria dos singles do Rednex, num total de dois álbuns: “Sex & Violins” (Tem 13 faixas, ele gravou 12) e “Farm Out” (Tem 15 faixas, ele gravou 10). 

Infelizmente Göran Danielsson faleceu no dia 09 de abril de 2021, prestes a completar os seus 65 anos de idade. 

O violinista Bosse Nilsson, que gravou no estúdio com Göran em quase todas as músicas do Rednex, o conhecia há muito tempo - antes mesmo de trabalharem juntos no disco “Sex & Violins” - então ele postou uma homenagem no facebook ao seu antigo colega, juntamente com uma foto datada do ano de 1985 em que eles estão num grupo musical. Nessa publicação a cantora Annika Ljungberg também apareceu para prestar as suas condolências e demonstrou tristeza pela grande perda.


Descanse em paz, Göran Danielsson!

Como citado acima, Göran Danielsson e Annika Ljungberg foram os artistas principais por darem vozes e alma ao Rednex, e agora sem a presença destes dois ilustres artistas, só resta aos produtores a viverem de seus antigos sucessos e promoverem suas turnês com uma grande equipe, tal qual é repleta de músicos que em sua maioria não contribuíram criativamente em nada ao verdadeiro Rednex.


O ROSTO E A VOZ FEMININA DO REDNEX FOI PROCESSADA PELOS PRODUTORES DO GRUPO

Ela não pode usar a marca Rednex!

E mais uma vez chegamos no mesmo assunto: Direitos Autorais. 

Annika Ljungberg foi condenada em 2017 a pagar uma multa aos produtores da banda Rednex após os mesmos a processarem em 2016. Ela foi acusada de fazer uso indevido da marca, recorreu com um recurso, porém perdeu a disputa. 

Este é basicamente o maior receio destes cantores originais no meio artístico, e por isso muitos não se envolvem muito nestas questões burocráticas e mais delicadas, porque, sinceramente não há muito o que se fazer quando a lei não lhes dá nenhum tipo de proteção. Se há um contrato, os tribunais irão validar somente as informações que estiverem ali registradas e assinadas.

Resumindo: Os produtores alegaram que Annika usou o nome "Rednex" sem a devida permissão, violando as cláusulas contratuais ao associar a marca em um evento norueguês, e no dia 29 de junho de 2017 o Tribunal Distrital de Estocolmo condenou a cantora e a sua empresa Showmix Annika Ljungberg AB

Annika, além de ter que pagar uma indenização ao Rednex, foi notificada a arcar também com todos os gastos judiciais. 


O SEGUNDO E ÚLTIMO ÁLBUM

"Farm Out" foi lançado em 2000 com "Whippy" nos vocais, substituindo "Mary Joe"

O álbum seguinte "Farm Out" foi lançado em 2000 e teve algum sucesso na Europa. O seu primeiro single "The Spirit of the Hawk" foi escrito por Axel Breitung, um produtor / compositor muito conhecido entre os fãs da Eurodance, principalmente por ter trabalhado com Fancy, DJ Bobo, Loft, Indra, T Spoon, Modern Talking, entre outros. Este single foi bem em alguns países europeus, especialmente na Alemanha.

Depois dos anos 2000 o grupo foi perdendo aos poucos a sua relevância, principalmente em países mais distantes, como o Brasil, onde eles nunca mais tiveram músicas novas tocadas nas rádios (apenas "Cotton Eye Joe" foi bem sucedida, as outras duas seguintes nem tanto).

Apesar de terem lançado apenas dois álbuns e pouquíssimos grandiosos sucessos, o Rednex segue na ativa sendo lembrado devidamente ao mega-hit "Cotton Eye Joe". Toda a fama deste single colaborou na construção e na força que o nome Rednex tem até os dias atuais, e assim, os produtores vão se garantindo financeiramente com várias turnês, festivais e diversas outras aparições.


ESTES SÃO OS INTEGRANTES ORIGINAIS DO REDNEX EM FOTOS MAIS RECENTES

Annika “Mary Joe” Ljungberg (foto de dezembro de 2023)

Em 1994, o produtor Pat Reiniz (Patrick Edenberg - conhecido também por Mup) estava procurando por uma cantora country para o seu projeto Rednex. Ele conheceu Annika e ela se transformou na personagem "Mary Joe". De 1994 a 1996 ela foi a cantora feminina do Rednex, mas depois saiu e foi trabalhar em seu álbum solo chamado "Me & Myself", que incluia os singles "Flower in my Garden", "The Reddest Rose" e "Me and Myself". Nesta sua nova fase, Annika ainda fez testes para ser a voz de "Branca de Neve" em um CD-Rom da Disney, cantou o tema de um jogo de computador intitulado de "Legend of Mana", gravou um dueto com a estrela do country sueco Jill Jonhson, e ainda participou de um evento muito popular na Suécia chamado Melodifestival. Anos depois ela se apresentou na "Rednex Revival Party" junto com o verdadeiro cantor do Rednex, Göran Danielsson, e também com o violinista Bosse Nilsson - que foi simplesmente o cara que tocou originalmente no estúdio o som do violino em "Cotton Eye Joe" (e em todos os outros sons de violino que ouvimos nas demais músicas do Rednex).

O público sueco se refere a Annika como uma pessoa muito talentosa, humilde, legal para se conversar - como se ela não se importasse por ser famosa. Os fãs ainda mencionam que Annika Ljungberg é uma artista que não tem sonhos maiores, além de apenas desejar continuar com sua música. Ela nasceu em 31 de março de 1969, tem atualmente 55 anos e segue com sua trajetória musical na Suécia.

Annika não tem a autorização para usar a marca "Rednex", então ela montou um grupo com dois rapazes, Fredrik Jernberg e Jensa Sylsjö. O nome desse grupo? Cotton Eye Joe, é claro! Onde ela tem se apresentado de tempos em tempos cantando algumas canções conhecidas, como o big-hit "Cotton Eye Joe".

No site deste seu grupo, ela deixa claro: Gostaríamos de ressaltar fortemente que estamos associados à marca CEJ - Cotton eye Joe e nos distanciamos rigorosamente da marca registrada Rednex e da empresa Rednex AB. Não temos cooperação, negócios em conjunto ou qualquer tipo de associação com Patrik "Ranis" Edenberg - Örjan Öberg - Janne Eriksson. Estamos trabalhando estritamente com e sob o nome CEJ - Cotton eye Joe onde quer que nos apresentemos ou façamos.

Instagram: https://www.instagram.com/annika_ljungberg/


Mia "Whippy" Löfgren (foto de dezembro / 2023)

"Mary Joe" esteve fora do Rednex e foi cuidar de seus projetos pessoais, então uma nova integrante se juntou à banda em 1999 (o grupo não gravou nestes cinco anos). Mia Löfgren é o nome dela, e recebeu o apelido de "Whippy". Curiosamente ela já havia cantado numa banda chamada "Rock Box", tal qual também tinha a participação do cantor Göran Danielsson, o verdadeiro cantor masculino do Rednex. 

Como bem informado acima, o grupo é um entra e sai surreal de pessoas, então no início de 2001 "Whippy" saiu do Rednex. Em 2003 ela se juntou ao programa de TV sueco "Fame Factory", além de lançar o seu single solo "Superstar" - que esteve em 4º lugar nas paradas suecas. Ela também ficou em 12º lugar nas paradas com a música "Gula och bl°a"

Tempos depois "Whippy" entrou em um grupo chamado "The Original Members of Rednex" e que trazia também outros caras da formação clássica, como Bobby Sue, Billy Ray BB Stiff, no entanto é importantíssimo ressaltar que este é um grupo totalmente diferente daquele que virá se apresentar no Brasil. Hoje, para a confusão ser completa, eles se apresentam também como Rednex, abandonando totalmente o título de antes: "The Original Members of...".

Como a vocalista entrou no Rednex em 1999, então não a considero como uma integrante da formação clássica, porém "Whippy" teve um papel fundamental sendo a substituta da "Mary Joe", e assim ela gravou com a sua voz o segundo álbum oficial do Rednex. É por esta e outras razões que o perfil de Mia Löfgren está sendo adicionado aqui entre os integrantes originais, embora ela não pertença a formação clássica.


Anders “Ken Tacky” Arstrand (foto de fevereiro de 2024)

De 1994 a 2000 pensávamos que Anders Arstrand era o vocalista masculino do Rednex, afinal, os vídeos e shows nos induziam a isso, sempre mostrando o cara atuando nas partes masculinas. No entanto, "Ken Tacky" (seu apelido) era só o tocador de banjo nos shows do grupo... E assim como a loira Sannie Carlson do Whigfield, ele nunca gravou nada com sua voz nestes sucessos dos anos 90. 

Como já mencionado acima, nem nas faixas que estão no CD "Sex & Violins" tem instrumentais desempenhadas pelo músico. Tacky, assim como os demais instrumentistas visuais do Rednex, foi contratado inicialmente para tocar nos shows e compor o time cômico do grupo, embora ele e seus colegas fossem realmente bons músicos. No vídeo de "Cotton Eye Joe", além de simular que está cantando vemos Tacky simulando que está tocando banjo, e esse instrumental é simplesmente espetacular, sendo um dos melhores momentos da música! Não sabemos quem foi o instrumentista que produziu este som mágico, mas provavelmente foi o produtor Pat Reiniz que o criou no computador, pois o responsável pelo instrumento está cadastrado no discogs como "Geral Custer - Tocador de banjo imaginário".

No 3º single "Wish You Were Here" há uma faixa em que Ken Tacky foi creditado tocando guitarra, mas é a versão "Live At Brunkeflo Town Hall", tocada numa apresentação ao vivo e registrada em áudio neste single. Já na versão de estúdio ele não desempenhou este papel.

Anders “Ken Tacky” Arstrand participou também de uma banda de metal chamada "Explode", inclusive participando de seu álbum "Live Forever" (como guitarrista desta banda). Em 2000 ele decidiu sair do Rednex, porém, em 2015 ele voltou se passando mais uma vez pelo vocalista do grupo (detalhe que a farsa já havia sido revelada anos antes). 

Hoje, Anders Arstrand toca guitarra numa banda sueca chamada Jaw e ainda mantém um bom convívio com os ex-integrantes da formação clássica. Ao que parece, só não há indícios de proximidade entre ele e Annika, aliás, por motivos óbvios ela não mantém vínculos nenhum com a galera original do Rednex.

"Ken Tacky" não era só um figurante do Rednex, de fato ele tinha os seus atributos artísticos, no entanto, cantar ele não cantava não....


Jonas “Billy Ray” Nilsson (foto de fevereiro 2023)

No início ele era apenas um dos violinistas nos shows do Rednex, mas depois que "Ken Tacky" saiu, ele também assumiu o papel de "cantor" masculino. Paralelamente ao grupo caipira, ele trabalhava como professor de música, além de trabalhar numa rádio. 

Assim como os integrantes já citados, ele saiu do Rednex em 2001, mas retornou em 2015. Um entra e sai infinito, realmente.

Na verdade ele nunca cantou no Rednex, mas era sem dúvidas um bom instrumentista, mesmo não atuando nas gravações do primeiro álbum. Como no caso citado acima, "Billy Ray" foi creditado como baixista no 3º single "Wish You Were Here", pois há uma faixa em que ele performou com um baixo, porém, essa é a versão "Live At Brunkeflo Town Hall"-  tocada numa apresentação ao vivo. Na versão original ele não esteve no estúdio. 

Hoje, ele se define como DJ, além de tocar guitarra na banda Jaw - junto com Anders “Ken Tacky” Arstrand. Ele ainda foi registrado na banda "The Original Members of Rednex" fazendo algumas apresentações com seus antigos colegas, como Bobby Sue, Whippy BB Stiff, lembrando que este é um grupo que hoje responde apenas por Rednex, mas totalmente diferente daquele que virá ao Brasil daqui a alguns meses.

Só reforçando também que, Jonas "Billy Ray" Nilsson era um dos violinistas nos shows do Rednex, mas no álbum, quem tocava o violino e fazia todo mundo se animar era o músico Bosse Nilsson.


Kenta “Bobby Sue” Olander (foto de janeiro de 2024)

De 1994 a 2001, Kenta Olander - conhecido como "Bobby Sue"- foi também um violinista do Rednex, e era lembrado pelas suas muitas tatuagens. Paralelamente ele ainda tocava bateria em uma banda de rock. 

Assim como os demais integrantes, Kenta Olander foi adicionado ao Rednex para as apresentações e festivais ao vivo, e apesar de todos estes membros não terem trabalhado nas versões de estúdio do primeiro álbum, compareceram na capa do disco fazendo companhia para "Mary Joe". 

No 3º single "Wish You Were Here", há realmente uma faixa em que "Bobby Sue" foi creditado tocando violino, mas é a versão "Live At Brunkeflo Town Hall", tocada numa apresentação ao vivo e registrada em áudio neste single. Nesta apresentação ao vivo há também a participação do violinista original que gravou esta e todas as outras faixas no estúdio - Bosse Nilsson.

Depois que "Bobby Sue" saiu do Rednex ele fez outros trabalhos, mas hoje também realiza alguns shows com Mia Löfgren, BB Stiff e Billy Ray na formação que não virá ao Brasil. Ele ainda mora em Estocolmo, é casado desde 1996 e tem dois filhos.


Urban "BB Stiff" Landgren (foto de 2022)

Ele era o baterista da formação original contratado para fazer os shows ao vivo do Rednex, aparecer nos videos, imagens promocionais e participar de todo aquele núcleo de humor. No estúdio, a princípio foram usados outros instrumentistas no álbum "Sex & Violins", mas “BB Stiff” realmente era um músico capacitado.

Assim como outros membros masculinos já citados, "BB Stiff" também aparece creditado (tocando bateria) no 3º single "Wish You Were Here", porém, apenas na versão "Live At Brunkeflo Town Hall"- que foi tocada numa apresentação ao vivo. Na versão de estúdio ele não participou, assim como todos os outros mencionados anteriormente.

Já no disco seguinte, ele realmente esteve no estúdio tocando banjo e flauta no fonograma original da música "Spirit of the Hawk" (faixa do álbum "Farm Out"). Ele também foi o responsável pelos sons de teclados, baixo, e guitarra neste 2º álbum, assim como os demais membros visuais.

"BB Stiff" ainda produziu algumas músicas do Rednex que apareceram em edições especiais lançadas na Ásia, além de se envolver na banda "Explode" (que Tacky também participou). 

Atualmente, Urban Landgren continua trabalhando com música e, inclusive, também entrou no grupo "The Original Members of Rednex" - que hoje responde apenas por Rednex.


FORFÉ DANADO DUMA FIGA

Rednex de 1995 - O auge do grupo e do Eurodance

- O histórico do Rednex nos mostra o quanto este é um grupo que sempre foi muito movimentado em relação as entradas e saídas de seus membros, mas hoje vemos que a situação conseguiu ficar ainda mais complexa e praticamente fora de controle... Acontece que há mais equipes e pessoas envolvidas nos eventos e shows do Rednex, ou seja, tem bandas diferentes utilizando-se do sucesso que "Cotton Eye Joe" proporcionou à marca sueca;

-Apesar de existirem bandas diferentes (que acabam confundindo o público), tudo está acordado / dentro da lei com a marca "Rednex". Muitos destes membros não tiveram nada a ver com a trajetória do Rednex e estão atuando com a aprovação dos produtores, já Annika - que fez parte da banda original - foi processada por ter levado o nome "Rednex" num evento na Noruega;

-Além da banda de Annika (que se chama “Cotton Eye Joe”) e da banda citada acima com o restante dos membros originais, há ainda a formação que virá ao Brasil, cujo nenhum membro participou antes- ou gravou qualquer faixa dos dois discos da marca Rednex. No entanto, é mais um grupo regulamentado e que tem a liberação dos produtores / detentores dos direitos. E atenção: Há mais outras equipes que representam o Rednex nos palcos, como uma formação que está na Nova Zelândia, e segundo pesquisas, há também uma na Austrália (!).


Peças publicitárias para as bandas Cotton Eye Joe e Rednex. As duas possuem membros da formação original, porém, a Turnê no Brasil não será com nenhuma dessas duas bandas. Há no mínimo mais 2 bandas que utilizam da marca (todas regulamentadas com os detentores dos direitos), veja abaixo qual formação virá ao Brasil...

-O Rednex deixa claro em seu site oficial que existem vários grupos representando a marca. Eles também descartam totalmente essa fórmula de "banda única" desde 2012, citando que o Rednex não é mais uma "banda", mas sim um "espírito" que pode chegar em outros conjuntos musicais. Nestas declarações percebemos que a marca se sente orgulhosa deste ato, como se os empresários do Rednex fossem pioneiros em algo que é inovador / revolucionário no entretenimento;

-O mesmo site oficial informa que a marca "Rednex" está a venda desde 2007, e que eles foram ridicularizados naquele ano quando fizeram o seu anúncio no popular site de vendas "Ebay". Aliás, essa sempre foi a intenção do Rednex, ser uma piada em todas as situações possíveis... "Muitas pessoas relacionaram esta atitude a algo destrutivo e desesperador, mas o Rednex mostrou que isso também pode ser feito com sorrisos e união. Existe um pouco de Rednex em todas pessoas e que merece ser mostrado mais vezes". Eles ainda avisam que a marca continua à venda, só esperando um comprador...


CURIOSIDADES MATUTAS

Um dos produtores principais: Pat Reiniz 

- O produtor do Rednex, Patrick "Pat Reiniz" Edenberg, também foi um dos integrantes visuais no comecinho do grupo, ele era o personagem "Mup", mas ficou pouquíssimo tempo. Ele saiu da linha de frente do grupo e "BB Stiff" entrou em seu lugar (ainda em 1994). Seu trabalho no Rednex se destinou apenas às produções das músicas, como trabalhando nos bastidores, também lidando com a imprensa e nos negócios burocráticos que envolviam a sua marca;

-Havia também uma história fantasiosa contando como a banda original foi criada, e a tal consistia no fato do produtor Pat Reiniz ("Mup") ter ido visitar uma pequena cidade americana do estado de Idaho (Brunkeflo), e acabou conhecendo neste passeio alguns de seus parentes que eram caipiras e que viviam ali de maneira incivilizada, o que levou a resgatá-los para montar a sua famosa banda Rednex. Nas entrevistas após a formação do Rednex, os membros alegavam que foram resgatados dessa vila incivilizada e levados para a Suécia e onde descobriram a sua paixão pela música. Apesar da história exagerada e duvidosa, a tática de marketing realmente funcionou. As pessoas ficaram perplexas com este roteiro, e “Cotton Eye Joe” atingiu as paradas na América do Norte e na Europa. Alguém depois disse à imprensa que eles nunca foram caipiras, muito menos americanos, e que a verdade é que todos eram suecos. Foi só em fevereiro de 1995 – seis meses após o lançamento da música – que um jornal sueco revelou que tudo isso era mentira. Ou seja, como diria o pessoal da roça: "Pura conversa fiada, só causos!" É claro que não demorou muito para que mais verdades fossem reveladas, com isso também foi dito que o verdadeiro cantor não era Ken Tacky....mas sim Göran Danielsson, o cantor country profissional já mencionado acima;

-Em 1995, o grupo teve que trocar a foto "mijada" da capa do álbum "Sex & Violins" no lançamento nos EUA (não sei porque...afinal, era uma capa tão linda, uma verdadeira obra de arte!);


Queria estar na reunião que decidiu isso. Deve ter sido no mínimo muito engraçada!

- O Rednex vendeu ao todo 10 milhões de CD's;

-Apesar do sucesso nos EUA, muitos americanos acharam que o uso de estereótipos pelo grupo foi profundamente ofensivo. O produtor do Rednex, Pat Reiniz ("Mup"), disse que sua representação da cultura americana não tinha a intenção de ser prejudicial;

- A faixa número 8 do álbum "Sex & Violins" provavelmente possui o maior título de uma música já registrada no mundo;

-O Rednex teve mais um problema nos anos 90. Eles eram acostumados a se apresentar bebendo cerveja e cuspindo no palco, mas durante um show na Noruega isso pegou mal e eles acabaram sendo presos. Foram rapidamente soltos porque a justiça local determinou que o ato fazia parte do show.


CONHEÇA O REDNEX QUE VIRÁ  AO BRASIL

Este é o Rednex que virá ao Brasil e fará 6 apresentações!
Anúncio publicitário do show do Rednex agendado para 03/05/24 em Curitiba-PR

Com todo o respeito aos membros dessa formação e também aos idealizadores da turnê brasileira, mas eu classificaria este grupo como um "cover" do Rednex original, e acho que esta definição seria a ideal para designar qualquer banda ou projeto que traz consigo apenas integrantes novos, ou seja, aqueles que não fizeram parte ou não gravaram originalmente nenhum sucesso em sua devida época de lançamento.

Vejam, por exemplo, o caso dos membros originais do grupo alemão Fun Factory. Eles foram demitidos da marca e rapidamente o seu empresário acabou substituindo-os por pessoas mais jovens, estas que, por sua vez, performam os híts de uma época que os tais nem vivenciaram, e muito menos contribuíram artísticamente alguma vez sequer para o projeto.

Não é só injusto com os integrantes originais, mas também com o público, que na minha opinião acaba "trocando gato por lebre". É um assunto delicado e que rende numerosas dissertações, mas no meu ponto de vista deveria haver um limite para essas engenhosidades criadas pelos magnatas do entretenimento. 

Atualmente, a banda da cantora Annika Ljungberg seria a mais próxima de ser classificada como uma banda original do Rednex, pois realmente contem a presença de alguém que, não só esteve de verdade na formação clássica, mas também cedeu o seu talento vocal às músicas do grupo, além de emprestar a sua imagem e carisma  -  tornando-o popular, sendo benquisto em inúmeros países e atingindo o seu auge como nunca mais os donos da marca conseguiram.


Rednex da nova geração

Muito provavelmente os brasileiros presenciarão o Rednex que está no vídeo abaixo (um show realizado na Itália em setembro de 2023). Este raciocínio se dá diante da imagem divulgada no anúncio do show de Curitiba-SP, onde podemos ver os rostos dos integrantes que coincidem com os mesmos que estão presentes no vídeo.

A nova vocalista apelidada de "Zoe" chama-se Nika Karch, e percebam, ela canta realmente ao vivo numa performance que é até muito satisfatória. Já a parte masculina é dublada, é claro!


Rednex - "Cotton Eye Joe" - Arena Suzuki Italy - 23/09/2023

Sobre a atuação deste grupo no Brasil, ao contrário do que pode vir a parecer... Eu fico feliz e apoio esta turnê em nosso solo. Apesar de todos os pesares, esta é uma opção a mais aos brasileiros para se divertirem - além daquelas tradicionais mesmices voltadas ao que a grande massa brasileira tem por preferência. 

É um respiro e um alívio diante da tamanha ditadura musical que vivemos atualmente, e assim ganhamos um pouco mais de diversidade, algo que é muito justo e necessário para qualquer comunidade sadia. Eu só acho interessante o público estar informado sobre estas movimentações e ciente do que os seus olhos irão presenciar!

E aos interessados pela turnê do Rednex, vocês poderão acompanhar as futuras novidades através desta conta:

https://www.instagram.com/rednexnobrasil/

Bom show para quem vai e depois nos conta o que achou! 😉


"Brigado cêis tudo pela leitura!"

sábado, 3 de fevereiro de 2024

ENTREVISTA EXCLUSIVA DJ JUANITO (SINGLES DE LINA SANTIAGO, DJ JUANITO, ARTIE THE 1 MAN PARTY)

Essa é mais uma entrevista que o Blog teve muito orgulho em realizar! Trata-se de um bate-papo com um dos meus primeiros ídolos dos anos 90: DJ Juanito. Naquela época os produtores não tinham tanta fama e reconhecimento como vemos hoje em dia, os destaques ficavam 100% com os cantores (ou modelos - no caso de projetos fakes como Whigfield, Corona, Randy Bush...), mas DJ Juanito teve uma considerável fama entre os fãs de Dance Music, e talvez seja um dos primeiros produtores a ter este reconhecimento que muitos tem atualmente.

Bora para mais uma??

ENTREVISTA EXCLUSIVA COM 

DJ JUANITO

DJ Juanito atualmente 
"O maior risco da vida é não correr um" (citação favorita)

RIKARDO: DJ Juanito, quem foram os músicos que te inspiraram a se tornar um produtor musical? 

DJ JUANITO: Não comecei como produtor, comecei como DJ... mas, acho que a música que me inspirou a ser músico foi o FREESTYLE dos anos 80! Todos aqueles sucessos! 

RIKARDO: Em 1995 você fez o maior sucesso com Lina Santiago na música "Feels So Good" e agora lançou uma versão nova deste grande clássico. Como seus fãs responderam a esta nova versão? 

DJ JUANITO: As pessoas que ouviram gostaram muito, mas ainda temos que ver o que os fãs acham! Eu mal divulgo os meus novos trabalhos ao público!

 RIKARDO: Nesta versão nova de “Feels So Good” temos a voz de Christina Marie... Como você a conheceu? 

DJ JUANITO: Eu a conheci há alguns anos, ela é uma garota de São Francisco aqui onde moro. Ela também vem do estilo FREESTYLE... 

RIKARDO: Hoje em dia muitos produtores vêm regravando músicas dos anos 90, ou inserindo samples desses antigos sucessos em produções atuais. Qual a sua opinião sobre isso? Os anos 90 estão de volta? 

DJ JUANITO: Oh sim! Muitas músicas hoje têm sons e inspirações dos hits dos anos 90! Acho que os anos 90 foram ótimos para o House e os produtores da atualidade sabem disso! Começamos neste movimento, que hoje é chamado de EDM! Para nós era apenas House Music ou Nu Freestyle.


Outdoor com anúncio do álbum de Lina Santiago, nos EUA (1996)

RIKARDO: Como você conheceu a cantora Lina Santiago? 

DJ JUANITO: Eu a conheci em Hollywood, Califórnia (Los Angeles). Meu amigo Tony Ramirez a trouxe para o meu selo, Groove Nation Records. 

RIKARDO: Quando foi a última vez que você conversou com a Lina Santiago? Vocês continuam sendo amigos? 

DJ JUANITO: Nos conversamos pela última vez nos anos 90! Infelizmente a gente se desentendeu.


Lina Santiago - "Feels So Good" (Video Official)
Na época, a cantora não tinha nem 18 anos de idade...

RIKARDO: DJ Juanito e Lina Santiago fizeram um grande sucesso ao redor do mundo, mas nunca mais lançaram nada juntos. Por que a dupla não colaborou novamente? 

DJ JUANITO: Essa questão é muito complicada! O que eu digo para as pessoas que me perguntam sobre isso é que leiam o livro que irei lançar! Um dia detalharei tudo e muito mais sobre a minha vida musical! Não escreverei o meu livro por enquanto porque ainda não terminei a minha missão, acho que estou apenas começando.

RIKARDO: Os charts americanos são bem difíceis de serem alcançados, principalmente quando se trata de artistas latinos, mas nos anos 90 você, DJ Juanito, quebrou essa barreira e conquistou as paradas americanas junto com Planet Soul e Angelina. Como foi isso para você? 

DJ JUANITO: Naquele momento eu não raciocinei direito sobre esta conquista, então não senti nada, pois estava muito focado na música e queria permanecer neste meu objetivo... Só mais tarde é que vi o que fiz! Senti muito orgulho deste meu feito. Nunca na minha vida pensei que a UNIVERSAL RECORDS iria lançar o meu primeiro álbum! Com certeza foi um sonho realizado!


DJ Juanito e Lina Santiago chegaram ao #35 da Billboard Hot 100 com o hit "Feels So Good (Show Me Your Love)"

RIKARDO: Como surgiu a ideia de produzir "Feels So Good"? Qual foi a sua inspiração? Você pode descrever aos seus fãs brasileiros o processo de produção deste grande e inesquecível hít mundial? 

DJ JUANITO: Eu tinha uma gravadora chamada BUST A GROOVE, era uma gravadora de loops puros e batidas feitas de samples puros... então um dia eu disse ao meu amigo que era hora de produzir e lançar músicas originais. Esse amigo me apresentou a Lina em Hollywood e imediatamente comecei a escrever FEELS SO GOOD. Lina me deu ideias para a música, mas não gostei das ideias. Como eu tinha a batida que eu gostava, gravei em fita cassete e um dia, voltando do estúdio para a minha casa, comecei a ouvir esta batida no som do meu carro e também fui escrevendo a letra ao mesmo tempo! Quando cheguei em casa já tinha a música escrita! Foi a batida, que criei primeiro, que me inspirou a criar FEELS SO GOOD. 

RIKARDO:  Nos anos 90 você também fez outras parcerias que se destacaram, como "A Mover La Colita". Como foi trabalhar com Artie The One Man Party? 

DJ JUANITO: Na verdade, eu não trabalhei com o Artie, ele me deu uma pequena ideia de "A Mover La Colita" mas eu produzi totalmente a música, é simples assim. Mas é claro que ele disse para todo mundo que produziu a música, e eu só dou risada!!


"A Mover La Colita" é um dos maiores sucessos de DJ Juanito e também está na trilha sonora do filme "Nunca Fale com Estranhos" (1995), com Antonio Bandeiras e Rebecca De Morney

RIKARDO: DJ Juanito, você foi o produtor executivo do álbum "Feels So Good" de Lina Santiago, lançado aqui no Brasil pela Universal Music em 1996. Por que a música "Dale que Dale" não foi lançada em CD-Single? Essa música foi muito ouvida em club's e rádios, então o público ainda se pergunta o por que disso... 

DJ JUANITO: Essa foi uma decisão da Universal, eu apenas produzi a música. A gravadora que decidia quais faixas virariam singles.


Lina Santiago e bailarinos, em 1995

RIKARDO: O grande hit “Feels So Good” pertence ao gênero Freestyle/Electro, mas muitas das músicas do álbum de Lina Santiago são românticas e pertencem ao gênero R&B. Essa ideia foi de Lina Santiago, sua ou da gravadora? 

DJ JUANITO: É CLARO QUE NÃO FOI MINHA DECISÃO!! Essa foi a decisão do presidente da Universal Records de Nova York, Daniel Glass! Neste caso, eu insisti que tínhamos que fazer um álbum de DANCE PURO, mas ele insistiu que tínhamos que usar compositores consagrados da indústria (Diane Warren, Emilio Esteban, etc.)! Eu disse a ele que era uma má ideia! Eu tentei fazê-lo entender sobre isso e não concordei sobre ter que criar músicas românticas / lentas para uma cantora que tinha explodido com um hit dançante... mas Glass não me ouviu! No ano seguinte, a Universal o demitiu!

Eu tinha dado uma outra ideia para ele, que também não gostou... Contei para ele se poderíamos colocar o meu nome na capa do disco, como "DJ JUANITO APRESENTA", mas ele me disse que isso nunca iria funcionar... agora é tudo o que mais vemos por aí: David Guetta, Tiesto, John Summit...apresentando vários artistas! Tive essa ideia nos anos 90, quando ninguém estava fazendo isso! 


Daniel Glass (ex-presidente da Universal Music)

RIKARDO: O gênero freestyle teve uma fusão perfeita com a música House/Electro. Você acha que um dia esse mix poderá ter o mesmo efeito que teve nos anos 90? 

DJ JUANITO: NÃO. Mas um dia farei outro Mix Freestyle/EDM para meus fãs! O que vocês do Brasil acham?


RIKARDO: DJ Juanito, para finalizarmos esta entrevista  você poderia deixar uma mensagem aos fãs brasileiros, por favor? Aqui no Brasil muitos DJs começaram a tocar graças aos seus discos...

DJ JUANITO: Sim, eu fiquei sabendo sobre isso...muitos DJ's brasileiros me contaram e eu fico feliz de saber! Hermanos, eu gostaria de fazer um agradecimento muito especial a todos vocês! Eu sei que a maioria dos meus fãs estão aí no Brasil! Muito obrigado a vocês! Tenho trabalhado em muitas músicas novas e espero que vocês possam ouvir e gostar.


"A maioria dos meus fãs estão no Brasil" - DJ Juanito

RIKARDO: Quer deixar suas mídias sociais para que seus fãs brasileiros possam te seguir? 

DJ JUANITO: É claro!

FACEBOOK

SPOTIFY

INSTAGRAM

www.djjuanito.com 

www.streamagroove.com 

Estou sempre procurando por artistas talentosos, se você é um artista e procura por um produtor experiente, aqui estou eu! Envie-me uma demo por email ou envie-me uma mensagem, e não se esqueça de me deixar os seus dados. Obrigado!

 E-mail: djjuanitopresents@gmail.com 

Obrigado Rikardo!


AGRADECIMENTOS:

Agradeço ao DJ Juanito por participar desta entrevista, a única feita a um site brasileiro. Definitivamente, um cara talentosíssimo, acessível e muito atencioso!

Espero que os fãs do Freestyle-Eletro dos anos 90 tenham gostado destas informações exclusivas - que mais uma vez conseguimos! Obrigado a todos pela leitura e até a próxima matéria sobre a boa e velha Dance Music!!!

Leia também: 

ANGELINA CAMARILLO (Matéria sobre a cantora de "Release Me", "I Don't Need Your Love", "Tide Is High", entre outros.)

ENTREVISTA COM LAURA MARTINEZ (Das músicas "Ritmo Latino" e "Te Quiero Amar")

quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

ENTREVISTA ANA PAOLA MELOTTI - ONYX "NOT TO BE YOU" E MANICO "TURN ME ON"

Depois de um recesso necessário, o Blog Rikardo.Music está de volta e traz aos leitores uma entrevista com a cantora argentina Ana Paola Melotti, a dona da voz em muitas faixas estrondosas da Eurodance, como Manico - "Turn Me On" e Onyx - "Not To Be You".

Essas duas músicas citadas são muito especiais para os fãs da Italo Dance, inclusive para mim, que cresci as ouvindo e as admirando por suas batidas, melodias e vocais cheios de atitude. Manico - "Turn Me On" marcou-me demais com seu rap acelerado e teclados nervosos, e nos anos 90 eu lembro que a considerava uma música bem "radicalzona" e underground para a sua época.

 Já "Not To Be You" do Onyx sempre me lembrou as produções da Factory Team (equipe de produtores da S.A.I.F.A.M.) e é um som que me traz grandes recordações da adolescência. Há ainda outras faixas incríveis na voz de Ana Paola Melotti, como Rhythm - "Beat Pressure" e Qruizia - "Fly To The Sky"... Vale a pena conhecê-las!!

Vamos lá então, descobrir um pouco mais sobre essa magnífíca voz da Dance Music?

Boa leitura à todos!


ENTREVISTA 

ANA PAOLA MELOTTI

Uma entrevista exclusiva aos fãs brasileiros da Italo Dance!!!

RIKARDO: Os fãs de Dance Music (como eu) adoram a sua voz potente e cheia de vigor. Você pode nos contar quando começou a cantar? Quantos anos você tinha?

APM: Acho que comecei a cantar dentro da barriga da minha mãe, porque ela também cantava...Cresci no meio da música e canto desde que me lembro... Profissionalmente, comecei aos 15 anos.

RIKARDO:  Seus pais incentivaram você a seguir a carreira de cantora?

APM: Minha mãe sempre foi a minha maior fã, ela me apoiou em tudo incondicionalmente, acreditou em mim até mesmo quando eu não acreditava...  Ela é a minha força ainda hoje.

RIKARDO:  Você se lembra da primeira música que você gravou em estúdio? Qual foi?

APM: A primeira música que gravei foi "Dancing", um remake de uma música dos anos 70, produzida por Joe Yellow (Domenico Ricchini)... Infelizmente, nunca foi lançada. A segunda música foi "Fly to the sky", também com Joe Yellow.

RIKARDO:  Se você não fosse cantora, qual profissão exerceria?

APM: Meu primeiro amor foi o balé, mas como venho de uma família humilde nunca tive recursos para estudar, então me concentrei na música. Eu acho que também poderia ser uma pintora, porque adoro pintar. Mas na vida já fiz de tudo, trabalhei no campo, fui garçonete em restaurante, vendedora de sorvetes, operária, costureira, telefonista... de tudo um pouco.


Ana Paola Melotti, da Argentina para o Mundo da Eurodance!

RIKARDO: Além de gravar muitas músicas de Eurodance, você gravou outros gêneros musicais?

APM: Na verdade comecei na Itália com bandas de folclore italiano, o Folk camuni. Eu tenho um repertório bastante extenso, em diversas línguas e estilos, desde blues, folk italiano / argentino, rock, baladas... Gosto de tudo um pouco.

RIKARDO: Ana Paola Melotti, você tinha algum artista favorito que te inspirou a cantar Italo Dance? Quem?

APM: Cresci no final dos anos 70 e fui uma adolescente nos anos 80, então você pode imaginar que tenho milhares de artistas que me inspiraram, como Duran Duran, A-ha, Wham!, Whitney Houston, Alison Moyet, Cyndi Lauper, Howard Jones, The Communard, Genesis, The Police, Depeche Mode, Billy Idol, Prince, Limahl... a lista é interminável... e claro, nos anos 90 eu adorava Snap! , Lolleatta Holloway e Martha Wash (que também eram cantoras de estúdios que ficavam escondidas), Haddaway, Crystal Waters e Soul II Soul (sempre gostei das maravilhosas vozes afro-americanas...).

RIKARDO: Você é um cantora argentina, mas, como começou a cantar Italo Dance? Quem descobriu seu talento vocal? E como você foi parar na Itália?

APM: Meu pai era italiano e em 1976 decidiu nos levar para a Itália, devido à situação que vivíamos na Argentina sob a ditadura... Cresci em uma pequena cidade montanhosa chamada Nadro de Ceto. Quem descobriu meu talento foi o DJ Basetta, em uma boate local quando participei de um concurso de música... era com canções natalinas... e eu ganhei! Ele me apresentou a Joe Yellow, com quem gravei vários singles depois.


Ana Paola Melotti mora atualmente na Argentina, seu país natal

RIKARDO: Você mora atualmente na Argentina, mas você ficou quanto tempo na Itália?

APM: Morei por 20 anos na Itália e depois 12 na Alemanha. Voltei para a Argentina em 2003, depois de me separar do meu marido... Eu quis clarear a cabeça, sabe?... e assim, finalmente pude conhecer o meu país. Me apaixonei pela Argentina e pela primeira vez tive a sensação de pertencer a algum lugar. Então decidi ficar.

RIKARDO: Na Italo Dance você cantou muitas músicas... Você tem alguma favorita?

APM: “Dancing” (a primeira que gravei) é a minha preferida, mas também amo “Freedom” que gravei com Joe Garrasco e "Not To Be You" que gravei com Verzeletti.

 RIKARDO: A música “Turn Me On” (Manico) é um de seus trabalhos que mais gosto...Você se lembra de como essa música chegou até você? Quem te convidou para gravar?

APM: Os caras do Manico eram os produtores Verzeletti e Cigalla, que me ligaram e perguntaram se eu tinha interesse em gravar com eles. Imagine como eu fiquei, tinha 18 anos de idade e fiquei muito, mas muito feliz!! Eles já tinham criado a música quando cheguei no estúdio, e depois eu coloquei a melodia e a letra nela.


Manico - "Turn Me On" (1994)

RIKARDO: Você pode descrever para seus fãs um pouco do processo de produção (ou algum fato interessante) da gravação de "Turn Me On"?

APM: O estúdio ficava numa parte da garagem da casa do Luca Verzeletti, como a maioria dos estúdios de gravação daquela época. Era um local pequeno, com dois computadores e uma caixa isolada do tamanho de um box de chuveiro, onde a voz foi gravada... Eles experimentaram todas as ideias possíveis que juntos imaginamos, e depois escolheram o que pareceu melhor.

RIKARDO: Nos anos 90 você chegou a se apresentar ao vivo cantando “Turn Me On” (Manico), “Not To Be You” (Onyx) ou alguma outra música de Eurodance? 

APM: Nunca cheguei a subir no palco para apresentar algumas dessas músicas, o meu trabalho limitava-se apenas no estúdio.

RIKARDO:  Como foi trabalhar com os produtores italianos Giuseppe Cigalla e Luca Verzeletti, os caras do Manico e Onyx?

APM: Foi divertido, pois imagine que eramos todos jovens entre 18 e 21 anos... Trabalhamos muito, mas também estávamos sempre rindo e se divertindo.

RIKARDO: Você tem uma voz forte e muito poderosa... Os produtores te deram muitos conselhos no estúdio de gravação? Eles te pediram para cantar de alguma forma especial ?

APM: Não muito... Joguei ideias, escrevi algumas letras e gravamos. Às vezes eles pediam para colocar mais alguma coisa ali, ou tirar alguma coisa dali, e a gente gravava, gravava... gravava novamente... até ficar bom!

RIKARDO: Você também gravou “Not To Be You” para o projeto Onyx. Essa música é maravilhosa e ainda causa arrepios em muitos fãs brasileiros de Eurodance. Você pode descrever a sua maior lembrança dessa música?

APM: “Not to be you” é uma das músicas que mais gostei de gravar porque me deixaram fazer muito nesta produção, seja com a letra ou com a melodia. Eu lembro que quando terminamos de gravar já era muito tarde da noite...Se bem me lembro, essa também foi a última música que gravei com a equipe do Manico, mas sinceramente eu não fazia ideia que tinha sido lançada. Eu só descobri isso no ano passado, quando um fã da Croácia me enviou um link, perguntando-me se aquela era a minha voz...


Onyx - "Not To Be You" (1996)

RIKARDO: Você se lembra de quantas músicas gravou em estúdios italianos? Consegue nos informar seus títulos e nomes dos projetos?

APM: Acho que gravei de 25- 30 músicas, mas não sei quais foram impressas em vinil, pois nem todas foram lançadas. Posso falar sobre aquelas que sei que foram lançadas... Lembro-me destas:

Fly to the sky - Qruizia- Joe Yellow

You ́ve got to fight- Fb machine

Turn me on- Manico

Freedom- Joe Garrasco, Joe Yellow - Krizia

Not to be you - Onyx

Spin me Around - Yes no yes

We can shine through the sky- River- Joe Garrasco (version original de fly to the sky)

Crazy for you - Cindy

Follow me -Verity

Rhythm - Beat Pressure

RIKARDO:  Você gravou algum videoclipe para alguma dessas músicas?

APM: Nunca gravei, e também eu nunca fiquei sabendo se lançaram vídeos para essas músicas.


"Fui discriminada devido a minha aparência" - Ana Paola Melotti

RIKARDO: Na Itália, os produtores de Dance Music costumavam colocar algumas modelos no palco para fazer a polêmica da sincronização labial, tipo Whigfield, Corona, Milli Vanilli... Chegaram a fazer isso com a sua voz?

APM: Lamentavelmente sim. Nos anos 70, 80 e 90 se você não fosse “bonita” não poderia subir no palco para cantar a música Dance. Por ser "gordinha" eu fui classificada como "feia", então a única coisa que eu poderia fazer era vender a minha voz e o meu talento por moedas. Isso aconteceu muito, relembremos os casos de Corona, Black Box, Milli Vanilli, Boney M, entre tantos...

RIKARDO: Muitos fãs de Dance Music não se importam com as farsas musicais e até brigam com o Blog dizendo que, o que importa é apenas a música e "dane-se" o cantor... Mas, e você? O que acha dessas farsas?

APM: É pura discriminação. Quando eu era jovem, eu só queria cantar, não sabia sobre essa parte de ter que doar a minha arte para alguma modelo se exibir em meu lugar. Não sabia que, apesar de meu talento vocal eu ficaria sem ser reconhecida pelo público, enquanto que a modelo ficaria com o destaque... O negócio da música era assim, e se você não aceitasse trabalhar dessa forma, ninguém iria ouvir a sua voz. 

Se eu pudesse voltar no tempo, eu não iria aceitar isso! A minha voz faz parte do meu ser, faz parte do meu rosto e do meu corpo, se você não gosta... ok., mas a minha voz faz parte de mim! Com todas as músicas que gravei, ganhei pouquíssimo dinheiro e não tenho mais direitos sobre o que escrevi ou o que cantei... A verdade, é que por tras das gravadoras tem muita máfia. E das grandes...

RIKARDO: Na Argentina, a Dance Music fez muito sucesso nos anos 90?

APM: Embora eu não estivesse na Argentina nessa época, eu sei que a música dos anos 90 teve muito sucesso por aqui...E eles continuam ouvindo e fazendo muitas festas "retrô"...

RIKARDO:  Como você se sentiu ao ouvir as suas músicas nas discotecas e rádios?? Deve ser maravilhoso saber que inúmeras pessoas dançam com a sua voz...

APM: É sempre uma grande emoção quando ouço as minhas músicas no rádio, ou quando as pessoas do exterior, como você, me escrevem, seja para me parabenizar ou para me oferecer algum projeto... Sinto um carinho na alma quando isso acontece, pois simplesmente é o retorno do meu trabalho e isso me faz sentir que todo o sofrimento e sacrífício não foram em vão. A gratidão é absoluta com cada um de vocês.


"Sinto um carinho na alma quando pessoas do exterior me escrevem me parabenizando... A gratidão é absoluta com cada um de vocês" 
- Ana Paola Melotti


RIKARDO: Você tem filhos? Se sim, o que eles acham dessas músicas que você gravou nos anos 90? Gostam?

APM: Não tenho filhos, mas tenho dois sobrinhos que são como filhos e eles têm muito orgulho da sua tia. Ambos amam música eletrônica (a disco modernizada dos anos 90!). Gostam bastante!

RIKARDO: A música “Crazy For You” (projeto Cindy - 1999) apresenta alguns elementos do Trance... Esse foi seu último single? Você gravou mais músicas na Italo Dance depois?

APM: Na verdade “Crazy for you” é de 1993, deve ter sido lançada em 1999. O meu último trabalho foi em 95: "Freedom", com Joe Garrasco. Naquela época eu trabalhava muito com o folk Camuni e no inverno cantava em um pub inglês em Passo del Tonale, então eu não tive muito tempo para gravar nessa época. Em 1997 casei-me e mudei-me para a Alemanha, e gravei algumas coisas por lá, mas até onde eu sei, não existem registros em CDs ou vinis dessas gravações...


Cindy - "Crazy For You" (1999)
Apesar de ter sido lançada em 1999, esta é uma música de 1993

RIKARDO:  Ana Paola, além de colaborar nas letras e na voz, você participava com outras ideias criativas? Os produtores te davam total liberdade para produzir ou improvisar nas músicas??

APM: Para cada música, as letras e as melodias das partes cantadas são de minha autoria, embora eles tenham ficado com todos os créditos... Eles tiraram várias estrofes cantadas de formas diferentes, então escolhiam depois qual soava melhor e inseriam nas músicas.

RIKARDO:  Felizmente os fãs de Dance Music tiveram uma adolescência mágica nos anos 90 ouvindo vozes incríveis como a sua (Onyx, Manico), Melanie Thornton (La Bouche), Taleesa (Co.Ro.), Jenny B / Sandy Chambers (Corona), Annerley Gordon (Whigfield)... mas, como os anos 90 foram para você? 

APM: Os anos 90 me deram uma libertação de muitas dores, pois antes a minha vida era bem difícil, principalmente nas questões familiares, porém, a música sempre esteve presente e me salvou nas diversas situações. Musicalmente os anos 90 foram ótimos pois trabalhei e me dediquei bastante na música, embora tenha sido muito dolorido quando me rejeitaram por causa da minha aparência física. Os anos 80 e 90 foram anos cheios de fantasia e brilho, seja nos figurinos, na música, nos filmes e na nossa própria vida.  Antigamente não havia celulares e nem computadores, o contato humano era essencial, as amizades daquela época são aquelas que duram com o tempo, vivíamos num mundo onde não era preciso ser rico para ser feliz, você só precisava de alguns amigos, de ar puro, e assim já se sentia o dono do mundo... Sinto falta daqueles tempos! Eu iria adorar se as crianças de hoje pudessem vivenciar aqueles tempos e aprendessem o que é a verdadeira amizade e a real felicidade.

RIKARDO: Há alguma coisa que você se arrependeu de ter feito (ou de não ter feito)?

APM: Eu acho que gostaria de ter a sabedoria e a coragem que tenho hoje para enfrentar e denunciar aqueles que me prejudicaram neste meio musical... E eu provavelmente também não teria ido à Alemanha.

RIKARDO: Você já realizou muitos sonhos em sua vida? Há algo que você ainda quer fazer?

APM: Posso dizer que realizei muitos dos meus sonhos, mas adoraria realizar uma turnê pela América Latina, e adoraria também fazer um show acompanhada por uma banda sinfônica interpretando vários clássicos da música, cantando aquelas canções que são atemporais...


Ana Paola Melotti continua na música...

RIKARDO:  Ana Paola, o que você está fazendo atualmente? Ainda grava músicas? Faz shows?

APM: Há quase um ano que não realizo shows. Por motivos familiares tive que dar uma pausa nos palcos. Sou treinadora vocal, então continuo cantando mas como professora. Tenho um CD gravado (agora à venda) e tenho também alguns projetos para gravar, sendo um deles aqui na Argentina e outro com um produtor da Itália para 2024...

RIKARDO: Que conselho você daria para quem deseja seguir uma carreira de cantor na Dance Music?

APM: Se a sua voz é boa, o seu corpo também é! Se você tem talento, nunca cante algo que você não gosta apenas para ter fama... Seja fiel a si mesmo, seja sempre você, ame-se acima de tudo e prepare-se mentalmente porque este não é um trabalho fácil ou simples, é muito sacrificial e muitas portas vão se fechar no seu nariz, mas mesmo assim nunca desista e nunca se sinta um derrotado. O mundo da música é um mundo mágico, lindo e ao mesmo tempo muito cruel e injusto.... não se iluda e seja forte!

RIKARDO: Muitos brasileiros entram em contato com você, por ser uma cantora de Dance Music? Você conhece muitos brasileiros?

APM: Acho que poucos brasileiros me conhecem como cantora, conheci vários brasileiros na Alemanha... são pessoas bonitas, muito felizes e calorosas. Eu amo a música brasileira, e quando eu era garota eu dançava samba... Adoro Daniela Mercury, Gilson de Sousa, Toquinho, Roberto Carlos, Ara ketu, Viniciús, Michel Teló...

RIKARDO: Para finalizarmos esta entrevista, queria te agradecer por sua amável gentileza e também queria saber se você tem alguma conta no Instagram ou alguma outra rede social para compartilhar com seus fãs...

APM: Tenho sim, vocês poderão me encontrar no instagram, youtube e também no facebook:

ANA PAULA MELOTTI

@anapaolamelotti - Instagram

Youtube

Facebook

Se quiserem comprar meu CD, me escrevam no facebook ou instagram e explicarei a vocês como fazer... Muito obrigado a todos!!! Um grande beijo para os fãs do Brasil. Espero um dia poder fazer alguns shows em seu maravilhoso país. 


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta entrevista foi realizada no dia 5 de dezembro de 2023, mas ao publicá-la hoje, notei que Ana Paola Melotti está internada num hospital tratando de uma pneumonia. Não tenho notícias quanto a sua recuperação, mas ela estava tentando se hospitalizar, e agora finalmente conseguiu. Se possível, gostaria de pedir aos leitores que enviem mensagens positivas à ela! Com certeza, essa talentosa artista ficará muito feliz em ler recados carinhosos de brasileiros que curtem as suas músicas Dance dos anos 90!! Vamos ser afetuosos com quem sempre nos proporcionou tantas emoções e alegrias através de sua bela arte...


Para concluir, desejo que todos vocês tenham um feliz, próspero e saudável 2024! Inclusive, à nossa estrela argentina... Feliz Año Nuevo, Ana Paola Melotti!

Muchas gracias por esta entrevista!